Jesus Permitiu o Divórcio em Caso de Traição? A Verdadeira Interpretação da "Cláusula de Exceção"
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Existe um único versículo na Bíblia que é usado como "válvula de escape" para milhares de divórcios cristãos. Em Mateus 19:9, Jesus diz: "Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição (imoralidade sexual), e casar com outra, comete adultério".
A leitura superficial é: "Se houve traição, o divórcio está liberado e o novo casamento também". Mas, no Manual do Casamento, nossa Interpretação das Cláusulas de Exceção (Item 1.3.2 do Estatuto) vai muito mais fundo. Nós acreditamos que Jesus não estava criando uma brecha para o divórcio, mas sim explicando corretamente a Lei de Moisés para fechar as portas que os fariseus haviam escancarado.
Para entender o que Jesus disse, precisamos voltar para o que Moisés escreveu. Vamos descomplicar essa teologia agora.
1. O Contexto: A Armadilha dos Fariseus e a Contradição Aparente
Em Mateus 19, a Bíblia diz que os fariseus vieram para "testar" ou "provar" Jesus. Não era uma dúvida genuína, era uma armadilha política e teológica. Eles queriam colocar Jesus em um beco sem saída diante de uma aparente contradição nas Escrituras:
O profeta Malaquias havia afirmado categoricamente: "O Senhor, Deus de Israel, diz que odeia o divórcio" (Malaquias 2:16).
Porém, Moisés em Deuteronômio 24:1 havia permitido a carta de divórcio.
Além disso, após o cativeiro babilônico, havia se introduzido o costume da Ketubah, um contrato de casamento que, embora visasse proteger a mulher, acabou normalizando o divórcio burocrático, criando costumes que muitas vezes contrariavam a essência dos textos sagrados. A intenção dos fariseus era colocar Jesus contra os judeus (ao negar um costume estabelecido) ou contra o Estado romano (ao interferir em leis civis). Jesus, porém, não cai na armadilha e resolve a questão indo à raiz: o princípio da Criação ("No princípio não foi assim") e a interpretação correta da Lei de Moisés.
2. A Definição de "Indecência" em Deuteronômio 24 (Item 1.3.2.1)
Quando Jesus cita a exceção, Ele está se referindo à lei do divórcio encontrada em Deuteronômio 24:1. Lá, a expressão hebraica para o motivo do divórcio é Erwat Dabar, que se traduz literalmente como "a nudez de uma coisa" ou "coisa indecente".
Aqui está a chave teológica que muda tudo: "Coisa Indecente" (Erwat Dabar) não pode ser Adultério.
Por que afirmamos isso? Por uma questão de lógica jurídica da própria Lei de Moisés:
Em Deuteronômio 22:22, a Lei ordenava que, se uma mulher fosse pega em adultério (sexo consumado com outro homem), a pena era a MORTE (apedrejamento), e não o divórcio.
Se a pena para adultério era a morte, então a "coisa indecente" de Deuteronômio 24 (que permitia apenas a carta de divórcio) tinha que ser algo menor do que o adultério.
Se "coisa indecente" fosse adultério, Moisés estaria se contradizendo, dando duas penas diferentes (morte vs. divórcio) para o mesmo crime.
O Que é, então, a "Indecência"?
No nosso entendimento estatutário, a Erwat Dabar refere-se a comportamentos imorais, vergonhosos ou de exposição sexual que não chegam à cópula carnal (adultério consumado). Um exemplo bíblico seria o caso de Bate-Seba banhando-se à vista de Davi. Expor a sua nudez (erwat) foi algo indecente, vergonhoso e grave, mas não foi o ato do adultério em si.
Portanto, quando Jesus cita a "exceção", Ele está se referindo a casos de imoralidade/indecência (expor a nudez, comportamentos lascivos graves), mas reafirmando que, para Deus, a aliança foi feita para ser permanente.
3. Porneia vs. Moicheia: O Dilema de José e Maria
No Novo Testamento, essa distinção se mantém nas palavras gregas. Jesus usa Porneia (imoralidade/fornicação) na exceção, e não Moicheia (adultério).
Muitos teólogos apontam que essa exceção de Porneia se conecta ao período do noivado judaico (desposório). Para entendermos a gravidade disso, precisamos olhar para o caso de José e Maria. Quando José descobre que Maria estava grávida, ele pensou em "deixá-la secretamente" (dar carta de divórcio em sigilo). Por que ele faria isso? Pela Lei de Deuteronômio 22, se uma moça desposada fosse achada em prostituição/fornicação na casa de seu pai, a pena não era apenas o fim do noivado, mas a morte por apedrejamento, pois isso envergonhava a casa de seu pai.
José, sendo um homem justo e temendo a Deus, estava em um beco sem saída: ele não queria expô-la à morte pública (infâmia), mas também não poderia casar-se com ela assumindo um pecado que não era dele. A carta de divórcio secreta seria um ato de misericórdia para livrá-la da morte, anulando o contrato de noivado. Foi necessária a intervenção do anjo para que José entendesse que aquilo não era Porneia (pecado), mas obra do Espírito Santo, permitindo assim que ele a recebesse como esposa sem medo da Lei.
Isso nos mostra que a "exceção" citada por Jesus trata de casos extremos de uniões ilícitas ou imoralidades prévias que invalidariam a aliança antes da consumação, e não uma permissão para divórcio em um casamento consumado e estabelecido por Deus.
Cláusula de Exceção: A Porta é Mais Estreita do que Parece
Por que essa Interpretação das Cláusulas de Exceção é importante? Porque ela nos impede de banalizar o divórcio. Hoje, qualquer mensagem de texto ou flerte é usada como justificativa para destruir uma família e casar com outro.
Jesus elevou o padrão. Ele disse que, no princípio, não havia divórcio. Mesmo que tenha ocorrido algo "indecente" ou grave no seu casamento, o coração de Deus sempre aponta para o perdão e a reconciliação (como Oseias fez com Gomer), e não para a busca de uma brecha legal para sair da aliança.
A exceção bíblica é raríssima, técnica e específica. A regra geral do Reino é o Perdão e a Permanência.
Essa interpretação profunda mudou a sua visão sobre o "direito" ao divórcio? É um tema denso, eu sei. Deixe suas dúvidas ou comentários abaixo para conversarmos.




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